A Psicologia do Desenvolvimento é uma disciplina da área da Psicologia que se dedica ao estudo e compreensão de como nos transformamos e aprendemos ao longo da vida. Esta é uma disciplina bastante complexa, mas muito útil para professores e pedagogos.
As mudanças e transformações que vamos fazendo ao longo da vida permitem-nos encontrar o equilíbrio entre o “eu” e o meio. Embora essas mudanças sejam mais notadas nos períodos de transição rápida (mudanças de fase de vida: infância, adolescência e envelhecimento), ao longo da vida vamos fazendo adaptações e pequenas mudanças que valem a pena serem estudadas.
A Psicologia do Desenvolvimento Humano é a ciência que estuda essas mudanças (ou a ausência delas). A Psicologia do Desenvolvimento Infantil é uma área específica que se debruça nas mudanças ocorridas durante os primeiros estágios da nossa vida.
O que é a Psicologia do Desenvolvimento Humano?
A Psicologia do Desenvolvimento Humano é a ciência que estuda as mudanças que os indivíduos sofrem ao longo da sua vida, percebendo quais as variáveis (internas e externas) que levam a essas mudanças comportamentais.
Tem como premissa que todos os indivíduos passam por fases na sua vida, sendo que estas são marcadas por períodos de transição rápida (momentos em que se observam grandes transformações).
Além de ser uma disciplina extremamente importante para os psicólogos, é muito útil para outros profissionais, especialmente para pedagogos, professores e especialistas em saúde mental.
Ao perceberem como funciona o processo de desenvolvimento nas diferentes fases da vida de um indivíduo, estes profissionais conseguem agir para mudar comportamentos dos alunos, pacientes e clientes.
Assim, a Psicologia do Desenvolvimento tem como objetivos:
- Reconhecer a origem de determinados comportamentos e condutas (cognitivas, afetivas, sociais ou psicomotoras)
- Identificar os mecanismos que dão origem a respostas e padrões de comportamento
- Delimitar fases de desenvolvimento, percebendo as características comuns a cada uma das fases
- Aplicar esses conhecimentos para ajudar crianças, adolescentes, adultos e idosos a mudar comportamentos prejudiciais ao seu bem-estar
Diferença entre Psicologia do Desenvolvimento e Psicologia da Aprendizagem
Apesar de serem termos usados, muitas vezes, como sinónimos, a Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem são, na verdade, opostas, como demonstrado por Jean Piaget (um dos grandes nomes da Psicologia do Desenvolvimento Humano), na sua obra “Desenvolvimento e aprendizagem”.
A Psicologia do Desenvolvimento refere-se ao conhecimento, ou seja, ao processo de mudança espontâneo que leva ao amadurecimento, não só do corpo, mas também do sistema nervoso e da mente.
Nesse sentido, podemos dizer que uma pessoa só atinge o ápice do desenvolvimento quando alcança a fase adulta.
Já a aprendizagem é feita ao longo da vida, a qual é causada por situações e experiências externas, não espontâneas. Assim, tal como Piaget afirma, a aprendizagem é provocada.
Fatores que influenciam o Desenvolvimento Humano
Existem quatro principais fatores que têm influência direta no Desenvolvimento Humano:
- Hereditariedade – os genes que um indivíduo tem, repassados pelos pais, têm influência no seu desenvolvimento. No entanto, eles podem manifestar-se, ou não, dependendo das experiências vividas pelo indivíduo e pelo ambiente em que cresce e vive.
- Crescimento físico – O adolescente e adulto, atingindo a maturidade física, consegue realizar outras atividades que não conseguia em criança.
- Maturação neurofisiológica – Esta maturação diz respeito às habilidades para aprender e dominar novos conhecimentos ao longo da vida, como andar, por exemplo.
- Ambiente – Os estímulos externos também têm influência no desenvolvimento. O ambiente engloba o local onde vive (família próxima) e as pessoas com quem convive (família afastada, professores, amigos, colegas de escola/trabalho).
Quais as Teorias e Teóricos mais importantes da Psicologia do Desenvolvimento?
O processo de desenvolvimento humano sempre suscitou grande curiosidade, mesmo entre as civilizações mais antigas. É intrigante como temos uma visão distinta de um determinado assunto quando estamos em fases de vida diferentes. Entender porque mudamos a forma de olhar para uma situação/assunto é fascinante e, por isso, desde cedo se desenvolveram teorias acerca das mudanças comportamentais.
A Psicologia do Desenvolvimento contemporânea reúne conhecimentos e informações de diferentes escolas de pensamento, integrando conteúdos vastos sobre a construção da aprendizagem e do conhecimento.
De entre as escolas de pensamento mais importantes na Psicologia do Desenvolvimento encontramos:
Gestalt
Esta escola refere-se à Psicologia da Forma, defendendo que o desenvolvimento dá-se ao longo da vida, conforme o indivíduo aprende a usar estruturas biológicas inatas. Assim, segundo esta escola, o desenvolvimento refere-se à descoberta da capacidade cerebral, a qual é feita aos poucos.
Pequenos gestos/respostas que se mostram superficiais podem, de facto, dar pistas sobre os sentimentos que estão latentes no sujeito. Assim, a Psicologia da Forma pode dar um contributo importante para a saúde mental.
Embora se reconheça que a Gestalt é uma das mais importantes escolas da Psicologia do Desenvolvimento, esta teoria já não se usa na comunidade científica, uma vez que se descobriu que é possível ampliar a capacidade de aprendizagem.
Teoria Psicanalítica (Sigmund Freud)
Freud é, até hoje, um dos teóricos mais seguidos na área da Psicologia. Foi este cientista que quebrou o paradigma da racionalidade e demonstrou que a maior parte da nossa atividade cerebral dizia respeito ao nosso inconsciente (id) e, portanto, altamente influenciada por fatores emocionais e afetivos.
Assim, o nosso ego (parte superficial do cérebro, responsável pelas interações entre o sujeito e o meio) e superego (controla os impulsos enviados pelo id e as intenções do ego) não são predominantes na nossa atividade cerebral (podes ler mais sobre o assunto na obra “O ego e o id”, de Freud).
Esta descoberta veio trazer uma nova visão sobre o desenvolvimento humano. De acordo com a psicanálise, este dá-se na procura de satisfação do indivíduo, sendo que é altamente direcionada pela libido desde a nascença.
De acordo com a teoria da psicanálise, em cada uma das etapas do desenvolvimento humano, o sujeito concentra-se numa parte do corpo, assim como em comportamentos/ações que dão maior prazer.
Por exemplo, na fase oral, os bebés têm a sua libido concentrada na boca. Por essa razão, comer, usar mordedores e chupetas deixa os pequenos muito satisfeitos.
Segundo Sigmund Freud, o ser humano passa por cinco fases de desenvolvimento psicossexual, sendo elas:
- Fase oral – Do nascimento até ao primeiro ano
- Fase anal – Do primeiro ano aos três anos
- Fase fálica – Dos três aos cinco anos
- Período de latência – Dos cinco anos até à puberdade
- Fase genital – Vivida na puberdade e na vida adulta
Cada uma destas fases tem uma influência muito forte no desenvolvimento da personalidade e caracterizam mudanças de comportamento importantes.
Behaviorismo
O Behaviorismo é uma teoria e método de investigação da psicologia que tem como objetivo examinar o comportamento humano (também dos animais) dando ênfase a factos objetivos (dizem respeito a reações e estímulos).
De acordo com o Behaviorismo, as mudanças comportamentais dão-se a partir de alterações ambientais. Defende que é uma mudança no ambiente que vai gerar uma mudança no comportamento do indivíduo.
Atualmente, podemos afirmar que a grande contribuição dada por esta teoria foi a descoberta de que podemos alterar padrões comportamentais.
Teoria Cognitiva – Lev Vygotsky
Lev Vygostsy, um dos nomes mais representativos da teoria cognitiva, trouxe uma visão completamente diferente do desenvolvimento humano. Este considera as pessoas como as grandes responsáveis pela construção da sua própria realidade / representação interna do mundo.
Vygotsy coloca a interação do indivíduo com o meio e o tempo histórico como construtora dos conhecimentos.
Psicologia do Desenvolvimento Infantil (Jean Piaget)
Jean Piaget foi, com toda a certeza, um dos teóricos mais influentes na Psicologia do Desenvolvimento. Ele centrou o seu trabalho de investigação nos processos que se dão por trás da evolução na estrutura do pensamento.
Este teórico deu ênfase ao estudo do comportamento humano nas primeiras fases da vida, o que o levou a estabelecer quatro estágios de desenvolvimento cognitivo:
- Sensório-Motor – Período desde o nascimento até aos dois anos de idade, aproximadamente. Neste estágio, os bebés vão aprimorando os movimentos e começam a incluir objetos à rotina de sucção. Aqui eles desenvolvem a diferenciação entre o seu corpo e o mundo exterior.
- Pré-Operatório – Período desde os dois anos e os sete anos de idade, marcado pelo início da fala. Embora com uma visão, ainda, egocêntrica, começam a transmitir as suas emoções e pensamentos. O seu conhecimento vai sendo construído pelas vivências, assim como pelos objetos conhecidos até ao momento.
- Operatório Concreto – Período desde os sete anos e os onze/doze anos de idade. A criança começa a construir estruturas lógicas. Além disso, este estágio é marcado por uma diminuição de egocentrismo, o que vai permitir que a criança realize trabalhos de equipa e colaborem com os outros.
- Operatório Formal – Período que se inicia com a adolescência. Já é capaz de refletir, deduzir e pensar em diferentes hipóteses. A sua capacidade de raciocínio também aumenta, o que lhe permite analisar temas complexos.
Estágios de Desenvolvimento Psicossocial (Erik Erikson e Joan Erikson)
Erik Erikson e a sua esposa e colaboradora, Joan Erikson, definiram oito estágios de desenvolvimento psicossocial desde a infância até à idade adulta.
Cada uma das fases é marcada por um desafio ou dilema existencial. A cada resolução com sucesso são enraizadas virtudes positivas. No entanto, o fracasso na resolução pode levar a um reforço das perceções negativas de si mesmo ou do mundo.
Confiança / Desconfiança
Esta fase ocorre na infância e, nesta, a criança aprende a ter esperança (caso ultrapasse o desafio/dilema com sucesso) e confiança de que existem pessoas sempre ao seu lado que o apoiam.
Autonomia / Vergonha e Dúvida
Este estágio ocorre na primeira infância, no momento em que a criança se torna mais independente. Quando o desafio/dilema existencial é bem-sucedido, a criança aprende a virtude positiva “vontade”.
Nesta fase, quando a criança é muito reprimida e controlada, reforça o sentimento de inadequação, podendo originar baixa autoestima e dúvida das suas capacidades.
Iniciativa / Culpa
Este estágio é marcado pela curiosidade da criança e pelas interações com outras crianças. Aqui, o objetivo é que a criança conquiste a virtude de senso de propósito. Quando a criança sente muita culpa, pode levar a uma interação com o mundo e outras crianças difícil e lenta.
Indústria (competência) / Inferioridade
Esta fase vive-se no início do período escolar. É neste estágio que a criança deve aprender a virtude “competência”. As crianças procuram aprovação dos outros e tentam entender qual o valor das suas ações.
Quando esta fase não é bem-sucedida, a criança ganha sentimento de inferioridade, o qual pode acompanhá-lo durante toda a vida.
Identidade / Confusão de funções
Este estágio dá-se na adolescência e o objetivo é que se conquiste a virtude “fidelidade”. O adolescente começa a perceber qual o seu lugar no mundo / sociedade, principalmente no que diz respeito ao seu papel de género.
Intimidade / Isolamento
É durante este estágio que os jovens conquistam a virtude “amor”. O jovem passa a partilhar a sua vida com outra pessoa, envolvendo intimidade e proximidade emocional. Quando o jovem não tem essa experiência nesta fase, pode levar a um reforço do sentimento de isolamento.
Geratividade / Estagnação
Este estágio marca o início da fase adulta e o objetivo é que o indivíduo adquira a virtude “cuidado”. É nesta fase que se encontra a estabilidade e se constrói uma família. Além disso, é neste estágio que nos envolvemos ativamente na sociedade / comunidade.
Integridade do Ego / Desespero
Esta fase dá-se com o envelhecimento, quando se olha para trás e se perspetivam os fracassos e sucessos. Quando um indivíduo tem a sua vida bem resolvida, ele adquire “sabedoria”.
É nesta fase, também, que o indivíduo bem-sucedido neste estágio encontra a aceitação da morte sem medo ou sem remorsos.
Como a Psicologia do Desenvolvimento Humano pode ajudar?
Ao conhecermos as fases e as razões que existem para que um indivíduo tenha comportamentos inadequados ou prejudiciais, a Psicologia do Desenvolvimento Humano consegue ajudar os indivíduos a perceberem o porquê de agirem assim e têm ferramentas capazes de alterar esses comportamentos.
Para tal, esta disciplina baseia-se em quatro pilares, os quais se encontram interligados:
- Físico-motor – refere-se ao desenvolvimento do corpo e da mente
- Intelectual – diz respeito à capacidade cognitiva
- Afetivo-emocional – refere-se à capacidade de viver e integrar emoções e experiências, levando à construção e desenvolvimento de sentimentos
- Social – diz respeito às posturas e comportamentos levados a cabo nas vivências em sociedade
Profissionais da área do ensino e da saúde mental beneficiam-se grandemente ao estudar com profundidade Psicologia do Desenvolvimento Humano. No entanto, qualquer pessoa pode tirar vantagens deste conhecimento adquirido, uma vez que lhe permite viver em sociedade com mais facilidade, entendendo melhor as pessoas, melhorando a sua convivência, além de ajudar na criação e educação dos seus próprios filhos.